domingo, 30 de janeiro de 2011

Telha de Vidro

      Quando a moça da cidade chegou  
      veio morar na fazenda, 
      na casa velha...  
      Tão velha!  
      Quem fez aquela casa foi o bisavô...  
      Deram-lhe para dormir a camarinha, 
      uma alcova sem luzes, tão escura! 
      mergulhada na tristura 
      de sua treva e de sua única portinha... 
         
      A moça não disse nada,  
      mas mandou buscar na cidade
      uma telha de vidro... 
      Queria que ficasse iluminada 
      sua camarinha sem claridade...  
       
      Agora,  
      o quarto onde ela mora 
      é o quarto mais alegre da fazenda, 
      tão claro que, ao meio dia, aparece uma 
      renda de arabesco de sol nos ladrilhos 
      vermelhos, 
      que — coitados — tão velhos 
      só hoje é que conhecem a luz do dia... 
      A luz branca e fria 
      também se mete às vezes pelo clarão 
      da telha milagrosa... 
      Ou alguma estrela audaciosa 
      careteia 
      no espelho onde a moça se penteia.   
       
      Que linda camarinha! Era tão feia! 
      — Você me disse um dia
       que sua vida era toda escuridão 
      cinzenta, 
      fria, 
      sem um luar, sem um clarão... 
      Por que você na experimenta? 
      A moça foi tão vem sucedida...  
      Ponha uma telha de vidro em sua vida!
      Rachel Queiroz

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